Cordel e ilustração para a UNIFESP 2022.1, no curso de Cannabis Medicinal.
Hoje eu vou falar da história
Da Santa Maconha
Que cura os doentes
E ajuda a quem sonha
A trajetória é milenar
Realmente muito longa
Desde os tempos antigos
Os chineses registram nos livros
Os benefícios da maconha
Vieram de lá os indianos
Com seus ritos religiosos
E até mesmo os americanos
Antes de seus conflitos odiosos
E atos de guerra insanos
Já registravam nas farmacopeias
Essa longa odisseia
Muito antes do profano
No tempo de meus avós
Tudo era diferente
Se preocuparam em fugir da guerra
Um povo imigrante e sem terra
Inventaram de se arraigar
Nessa nação do repente
Me pergunto por que no mundo
O destino foi inventar de trazer
Eles, que do nada fizeram tudo
Aqui para essa cultura
Onde se aprende a lutar,
Esquivar do preconceito
Enraizado na estrutura
Mas quando eu olho ao meu redor
O que eu sinto é orgulho
Pois falo de bom humor
Como um contemplador
Das belezas que aqui se acham
Na época de Junho e Julho
São João é agora, enquanto eu escrevo
O povo é desenvolto
Acha graça entre o pelejo
Num ritmo cada vez mais puxado
Por conta da opressão e descaso
Da política do estado
Como se nos olhasse de cima
Achando pouco civilizado
Minha vó foi professora
Meu vô um homem trabalhador
Hoje são ambos velhinhos
De bengala e andador
Ele é parkinsoniano
Ela está cansada de guerra
Ele é lúcido sem engano
Ela tem muita dor nas pernas
Ambos muito inteligentes
deram origem pra gente
E eu não poderia pedir mais
Cresci com plantas e florais
E com cuidados da minha família
Que com carinho me criou
Nem tudo são flores
E eu vejo meus avós sofrendo
Pois a desinformação leva alguns a achar
que a cannabis seria um veneno
Além de tudo ela é tão cara
que não vemos por onde alcançá-la
Comprar seria um privilégio
que muita gente não encara
Mas eu prometi pra mim mesma estudar
Que quando o mistério for revelado
E soubermos então do escolhido
Entre os pais, tios e os primos
Para pegar essa genética
Eles vão vir com o peixe
Mas eu já vou ter a moqueca
Pesquisando eu encontrei pelo mundo
Alguns grandes pensadores
Transformando solo árido em fecundo
Padre Ticão e os Israelenses
Jogando duro nos bastidores
Quando eu penso nisso
as lágrimas correm sem parar
Não queria que as coisas fossem assim
Nas aulas me disseram
que a maconha é popular
Veio do povo e com o povo deve ficar
Quero lutar de cabeça erguida
Até os meus 120 anos
Por respeito a quem me deu a vida
Vou combater a injustiça
dos regimes desumanos
Não é uma luta individual
É uma batalha coletiva
Uma corrida pela vida
Mudança lenta e gradual
Pela medicina esquecida
Percebendo ou não percebendo
Você também faz parte
Desse cabo-de-guerra
Agora tem que ver se o lado a se puxar
É o que vai lhe ajudar
Ou se vão lhe passar a perna
Enquanto o povo desperta
Eu preciso fazer minha parte
Minha ferramenta é a palavra
a cabeça e talvez a arte
A verdade é meu escudo forte
Contra toda e qualquer maldade
Peço em oração com tanta força
que meu corpo começa a tremer
eu só quero fazer o bem
para aqueles que me viram crescer
Isso é o que eles merecem
Paz, passarinho e dendê
Não quero deixar o tempo levar
E eles de mim tirar
Pra que eu então possa entregar
As flores cheirosas que sempre quis dar
Se eu não conseguir realizar o sonho
Vou precisar seguir em frente
Levando no peito essa gente
E fazendo assim o bem
Isso é o que eu proponho
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