top of page
Foto do escritorLua Pche

As flores e o tempo

Atualizado: 28 de jun.

Cordel e ilustração para a UNIFESP 2022.1, no curso de Cannabis Medicinal.


Hoje eu vou falar da história

Da Santa Maconha

Que cura os doentes

E ajuda a quem sonha


A trajetória é milenar

Realmente muito longa

Desde os tempos antigos

Os chineses registram nos livros

Os benefícios da maconha


Vieram de lá os indianos

Com seus ritos religiosos

E até mesmo os americanos

Antes de seus conflitos odiosos

E atos de guerra insanos

Já registravam nas farmacopeias

Essa longa odisseia

Muito antes do profano


No tempo de meus avós

Tudo era diferente

Se preocuparam em fugir da guerra

Um povo imigrante e sem terra

Inventaram de se arraigar

Nessa nação do repente


Me pergunto por que no mundo

O destino foi inventar de trazer

Eles, que do nada fizeram tudo

Aqui para essa cultura

Onde se aprende a lutar,

Esquivar do preconceito

Enraizado na estrutura


Mas quando eu olho ao meu redor

O que eu sinto é orgulho

Pois falo de bom humor

Como um contemplador

Das belezas que aqui se acham

Na época de Junho e Julho


São João é agora, enquanto eu escrevo

O povo é desenvolto

Acha graça entre o pelejo

Num ritmo cada vez mais puxado

Por conta da opressão e descaso

Da política do estado

Como se nos olhasse de cima

Achando pouco civilizado


Minha vó foi professora

Meu vô um homem trabalhador

Hoje são ambos velhinhos

De bengala e andador


Ele é parkinsoniano

Ela está cansada de guerra

Ele é lúcido sem engano

Ela tem muita dor nas pernas


Ambos muito inteligentes

deram origem pra gente

E eu não poderia pedir mais

Cresci com plantas e florais

E com cuidados da minha família

Que com carinho me criou


Nem tudo são flores

E eu vejo meus avós sofrendo

Pois a desinformação leva alguns a achar

que a cannabis seria um veneno


Além de tudo ela é tão cara

que não vemos por onde alcançá-la

Comprar seria um privilégio

que muita gente não encara


Mas eu prometi pra mim mesma estudar

Que quando o mistério for revelado

E soubermos então do escolhido

Entre os pais, tios e os primos

Para pegar essa genética

Eles vão vir com o peixe

Mas eu já vou ter a moqueca


Pesquisando eu encontrei pelo mundo

Alguns grandes pensadores

Transformando solo árido em fecundo

Padre Ticão e os Israelenses

Jogando duro nos bastidores


Quando eu penso nisso

as lágrimas correm sem parar

Não queria que as coisas fossem assim

Nas aulas me disseram

que a maconha é popular

Veio do povo e com o povo deve ficar


Quero lutar de cabeça erguida

Até os meus 120 anos

Por respeito a quem me deu a vida

Vou combater a injustiça

dos regimes desumanos


Não é uma luta individual

É uma batalha coletiva

Uma corrida pela vida

Mudança lenta e gradual

Pela medicina esquecida


Percebendo ou não percebendo

Você também faz parte

Desse cabo-de-guerra

Agora tem que ver se o lado a se puxar

É o que vai lhe ajudar

Ou se vão lhe passar a perna


Enquanto o povo desperta

Eu preciso fazer minha parte

Minha ferramenta é a palavra

a cabeça e talvez a arte

A verdade é meu escudo forte

Contra toda e qualquer maldade


Peço em oração com tanta força

que meu corpo começa a tremer

eu só quero fazer o bem

para aqueles que me viram crescer

Isso é o que eles merecem

Paz, passarinho e dendê


Não quero deixar o tempo levar

E eles de mim tirar

Pra que eu então possa entregar

As flores cheirosas que sempre quis dar


Se eu não conseguir realizar o sonho

Vou precisar seguir em frente

Levando no peito essa gente

E fazendo assim o bem

Isso é o que eu proponho

67 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


bottom of page