Ler Kundera é encontrar sossego em madrugadas de ansiedade. A maneira como o autor costura o erudito com o popular na construção de suas metáforas e interconecta as teias que vão sendo construídas ao longo de seus textos, traz uma experiência muito gostosa de leitura.
A festa da insignificância nos recebe com situações e diálogos que se mostram a primeiro momento destituídos de sentido, totalmente aleatórios. Conforme a leitura, a insignificância vai ganhando significado, significado este que não pode ser traduzido a não ser pelo auxílio das lentes de Alaín, Ramon, Charles, da sua, da minha, de Calibã ou do próprio líder totalitário Stalin.
Chega a ser irônico como um mundo que se pretende repleto de significados, inevitavelmente caia na teia da insignificância para encontrar ou tentar justificar os seus sentidos. Em uma passagem que me chamou muita a atenção, o autor sob a influência de Schopenhauer lança a seguinte reflexão; ''Existem tantas representações do mundo quanto pessoas sobre o planeta; isso cria inevitavelmente o caos; como pôr ordem nesse caos?'' Quem profere tais palavras na obra é Stalin, e a história nos concebe que a sua resposta para questão não pôs ordem em caos algum. O caos é inevitável assim como as representações.
O livro na minha opinião, não é a melhor, nem a pior obra de Kundera. A leitura é fácil, acessível e eu recomendo, assim como todos os outros que eu li.
''A insignificância, meu amigo, é a essência da existência. Ela está conosco em toda parte e sempre. Ela está presente mesmo ali onde ninguém quer vê-la: nos horrores, nas lutas sangrentas, nas piores desgraças. Isso exige muitas vezes coragem para reconhecê-la em condições tão dramáticas e para chamá-la pelo nome. Mas não se trata apenas de reconhecê-la, é preciso amar a insignificância, é preciso aprender a amá-la. Aqui, neste parque, diante de nós, olhe, meu amigo, ela está presente com toda a sua evidência, com toda a sua inocência, com toda a sua beleza.''