A internet é uma ferramenta fantástica, mas para quem não sabe o que procura, acaba se tornando muitas vezes um universo superficial, enquanto, a um nível mais profundo, as pessoas estão perdendo os parâmetros, talvez o isolamento faça parte isso. Acho peculiar estarmos passando por uma crise dessa magnitude sob tais circunstâncias.
Vejam, para começar, o celular, que era o grande inimigo do jantar em família, agora é nossa principal ferramenta para tentar se proteger de uma ameaça invisível e que nos força à distância física. Quão significativo isso pode ser? Temos que pensar também como está se dando a chegada das informações para o indivíduo, que está situado neste tempo, sob as tais circunstâncias atuais, dentro do seu cenário social, e como isso interfere na geração de ansiedades, medos, ou até descaso, deboche.
O que eu quero dizer é que, certamente, cada um está significando à sua maneira este momento (como sempre foi), mas é difícil enxergar alguma coletividade quando nossa única forma de abraço é um smile vago e nossa informação é um post de 120 caracteres, ou uma imagem no instagram, repostada mil vezes, (pois todos sabemos a força que tem um encontro físico). Com isso não quero dizer que devemos elaborar uma ideia absoluta, isso seria impossível, não só pela falta de distanciamento em tempo, mas porque toda história é relativa, mas quem sabe ao menos um mapeamento de como estão lidando as diferentes populações, camadas sociais, uma centelha de coletividade, uma atenção voltada a isso, porque merece. Meus vizinhos acreditam que está tudo bem, “é doença que só dá em rico”. Eu temo por nós, mas quem sabe?
Nossos sentidos foram finalmente transpostos à essa maquininha de 5.2 polegadas, porque eu não consigo ver as pessoas e suas expressões, o que eu vejo é mais do mesmo pela internet, a morada da pós-verdade. O real é novamente relativo, e “realidade” é o que é percebido pelos sentidos, mas o que é significado como real se meus sentidos se resumiram a ler informações mastigadas e quase que tão somente isso?
Fica o convite para pensarmos esse momento histórico que nos chama com toda a delicadeza da psicologia, da sociologia, filosofia, pois podemos até adiar mais um pouco, mas precisamos estar preparados para um possível trauma coletivo ou uma mudança de vida importante, no melhor dos casos. Podemos nos resumir às nossas casas e telinhas, sem tato algum, mas a sociedade continua, mesmo sem se sentir, fora do campo de visão para àqueles que têm esse privilégio.
Arte por: Angie Wang.
gostei da mensagem, achei verdadeira